Não raras vezes ainda penso na minha infância. Vivíamos no meio da cidade e aos fins-de-semana íamos todos, em excursão, para a quinta da avó Nita. Éramos 5 irmãos, muito unidos, muito amigos, todos rapazes. Eu era o mais novo e, por isso, herdava roupas e brinquedos partidos dos mais velhos. Por outro lado, tinha a protecção e o mimo de todos e, embora naquela altura eu não entendesse bem o que isso significava, era feliz.
Só agora entendo que a vida não era toda felicidade. Só agora que decidi averiguar as minhas insónias, os meus medos absurdos, consegui entender que tudo não passava de uma fuga e de uma ilusão que a mãe inventou para que não percebessemos a sua agonia.
Os dias no campo eram passados entre brincadeiras e aventuras enquanto a mãe, na cidade, vendia o seu corpo para nos dar de comer. Ninguém desconfiava que uma senhora tão distinta pudesse sobreviver assim. A única questão que nos confundia era não sabermos do pai, mas alguém dizia que ele era Embaixador no Brasil e que o Brasil era muito longe...
Hoje as peças encaixam e fazem algum sentido. A mãe partiu há alguns anos e perdoei-lhe todas as mentiras. A única mágoa que guardo é a de, até hoje, não saber amar uma mulher!
3 Comments:
Boa história (mini-história).
Diz-me uma coisa:
porque não ousas fazer ficção mais longa, como eu?
Acho que te ías sair muito bem!
Vá!
Força!
Obrigado pela visita.
Calma que a procissão (novela) ainda não saiu do adro.
Beijinhos
@antónio:hmmm...um dia destes tento escrever qualquer coisa mais a sério...mas não sei o que sairá! Eu escrevo por impulso, nunca sei o que vai sair: penso nas primeiras palavras e depois é só seguir em frente! A imaginação é o limite! ;)
Beijinhos!
Obrigado pela visita e pelo comentário ao 3º episódio de "O viúvo".
Quanto a fazeres uma ficção com maior fôlego...não há nada como tentar...e tentar...e tentar...e depois, ou se pára ou se continua.
Beijinhos
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