Escrevo-te, amiga, para te dizer que a vida por aqui não está fácil. Todos têm fome e não há o que comer. Todos têm sede e a água está a acabar-se. Por sorte, o carteiro que vem da cidade uma vez por semana, parou aqui hoje e assim te chega esta missiva que é quase um pedido de socorro. Eu sei que a culpa é minha - eu é que quis vir. Mas não estava preparada. Penso que nunca ninguém estaria preparado para tamanha miséria. Dentro de duas semanas volto para casa e este pesadelo vai acabar. Mas...e quem fica? Quem não tem lugar para onde voltar? O que lhes acontece. Aqui morrem crianças todos os dias, estão doentes e não há ciência ou tecnologia que aqui chegue para os salvar. O que vamos fazer, amiga? Simplesmente ignorar e seguir em frente? Preocuparmo-nos com a blusa que comprámos e não nos fica bem ou com aquele creme que encomendámos há mais de um mês e continua esgotado?...Talvez...talvez seja melhor, sim!
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