terça-feira, dezembro 27, 2005
Aquilo revelou-se qualquer coisa que eu não tinha pedido, não esperava e nem tinha capacidade de receber naquele momento. Aquilo era assim como que um embrião, a criação de algo que muitos chamam amor. Percebi-o antes até do primeiro beijo... o tal que esperei e não aconteceu logo.
Acompanhaste-me ao carro e ainda conversámos um pouco ou então nem conversámos, não sei. Sei que foste embora. Esperava de ti o que os outros todos faziam: um beijo e um convite para apanhar ar noutro sítio (obscuro) longe do movimento de carros e pessoas. Nada disso. E foi isso que aguçou ainda mais a vontade de descobrir o que querias de mim... Mais tarde descobri, não gostei, mas deixei-me levar: antes isso que nada! Amar e fingir que não foi um jogo que joguei até ao limite...
quinta-feira, dezembro 22, 2005
Sentia-me vazia. Aceitei aquele convite apenas porque sim. Precisava de me distrair e tirar a amargura de dentro do meu corpo. A alma, calmamente, limpava-se sozinha ou com a ajuda de livros new age...
Encontrámo-nos no tasco do costume. Pedi uma imperial porque queria ficar naquele estado ébrio que me libertava. Acompanhaste-me.
Falámos de nada. No fundo, as palavras não contavam: apenas o fitar dos olhos. Incomoda-me que me olhem nos olhos, mas não conseguia evitar olhar nos teus. As imperiais corriam na mesa. mais uma, mais uma... o que eu queria era sair dali, já tinha percebido que a minha tentativa de me distrair tinha saído furada. Estava concentradíssima. Em mim. No que me estava a acontecer. Em como me tinha enganado. Só não conseguia explicar o que era aquilo!
quarta-feira, dezembro 21, 2005
Ao longo dos anos, vi-te envelhecer e isso assustava-me. Um dia era inevitável que a mim me aconteceria o mesmo. Após várias crises existenciais a tentar descobrir o sentido de virmos ao Mundo, decidi-me pela resignação: é assim e pronto! Deus apareceu-me quando já não O esperava... quando já não esperava nada. Vi-O em ti e naquele gesto único: um abraço vindo do nada, só porque sim. Vi-O numa célebre viagem de comboio infernal que me deixou sem nada, mas com o teu carinho, mesmo à distância.
Quando te sentiste cansado, partiste. Deixei de te ver, mas sentia-te. Sinto-te ainda hoje. Escreves-me cartas de amor que não me envias, mas que chegam direitinhas ao meu coração. Não sei como pareces aos olhos dos outros, para mim és o anjo que envelheceu sempre junto a mim.
Quando partires para a viagem mais longa eu vou estar lá a dar-te a mão e um abraço forte que eternarizará a nossa união... para sempre.
segunda-feira, dezembro 19, 2005
Não podia sequer arriscar a virar-me para o lado. Ali estava. Imóvel. Sem perceber porquê. Ouvia vozes ao longe. Eram eles. Era com eles que queria estar. Mas não conseguia. Estava frio e uma manta quente tapava-me o corpo ainda vestido. O que se passou...não sei.Talvez prefira até não saber!
sexta-feira, dezembro 16, 2005
Naqueles finais de tarde eu saía do emprego, descia a rua e passeava um bocado até ter vontade de ir para casa. Raramente ultrapassava os 15 minutos e ainda parava para beber um café na leitaria da esquina. Deliciava-me com o frenesim das senhoras de saco plástico numa mão e o passe na outra. Apreciava a última moda em mochilas que os miúdos do Liceu carregavam ou pontapeavam consoante a disposição com que saíam das aulas. Sentia-me nos bastidores de um mundo que não era o meu. Observava com atenção as pessoas, os edifícios e nunca me cansava. Cada pormenor era importante. Precisava da inspiração da rua para, mais tarde, me fechar no meu mundo e escrever, escrever sem parar. Conseguia ser a funcionária eficiente de dia e a escritora falhada de noite - uma vida dupla que mantive até te conhecer. Entraste de mansinho numa vida que estava organizada e, calmamente, fizeste uma revolução. A escritora falhada deixou de existir, não havia tempo para devaneios. A funcionária eficiente mantém-se: há contas para pagar! Ainda passeio nos finais de tarde. Um caminhar com destino, ir ao teu encontro e juntos seguirmos para a nossa casa. Não sei se ganhei com a mudança. Há dias sim e dias não. Mas são dias em que sinto que estou viva e que pertenço a qualquer coisa.
quarta-feira, dezembro 14, 2005
E quando esta guerra acabar não sei se vou sair vencedor ou vencido. Apenas sei que a procurei, que a quis e que a ela resisto a cada dia que passa. Preferia vencer, mas nesta altura, só me interessa que acabe. Preciso de paz. Preciso de viver com sentido e sem temer armadilhas ou balas perdidas. É muito incómodo resistir a tantos ataques. Era mais fácil sentir conforto e aconchego...tempo vazio para procurar outras lutas!
terça-feira, dezembro 13, 2005
Às vezes queria que não tivesses partido. Queria que tivesses ficado e que tivesse sido minha a escolha da tua ida. Amava-te. Sim. Sofri por isso, mas mais pelo desespero de ter sido abandonado. Um homem tem o seu orgulho! Quando me disseste que não aguentavas mais o meu desalinho mental, a minha desordem interior (foram estas as tuas palavras) pensei que era um desabafo do momento. Não foi. Arrumaste a mala, pegaste na torradeira e saíste porta fora. Eu preferia ter-te dito que quem não aguentava era eu, não suportava a tua pontualidade, a tua necessidade de que tudo fosse perfeito e feito depressa. Quando te reencontrar ao lado de um chato qualquer que entretanto te desposou e deu 3 (três) filhos vou ser eu a dizer que quero que saias... definitivamente da minha cabeça!
quarta-feira, dezembro 07, 2005
terça-feira, dezembro 06, 2005
Ficávamos ali sentados. O sol a recolher, o vento a cheirar-nos a pele, as ondas a ameaçarem um banho indesejado. Era até ao limite... a maré a subir e nós a desafiarmos a Natureza: não podemos sair daqui! A areia colava-se às botas e estávamos sozinhos: ninguém vem para a praia em Dezembro! A Fortaleza a aconchegar-nos. Nada mais existia. Nem as palavras que cortavam o marulhar ritmado. Eram poucas, as palavras... às vezes, fazíamos amor. Mesmo ali. Quando levavas a mantinha de xadrês, eu já sabia como ia acabar aquele pôr-do-sol... sentia-me adolescente outra vez e era tão bom!
Sabes, há dias levei lá a nossa menina, mostrei-lhe o nosso cantinho, contei-lhe como ficávamos ali... Ela percebeu que nos amamos, ainda hoje e apesar da distância. Volta depressa, meu amor! Precisamos de ti!
segunda-feira, dezembro 05, 2005
Não sei o que tenho. Só sei que não posso continuar assim. É como se tivesse uma pedra no sapato. Sinto-a. Incomoda-me. Mas quando penso em tirá-la parece que posso aguentar mais um pouco. Afinal, esta caminhada não é assim tão longa!... Mais uns passos e a pedra cresce ... assim o sinto. Resisto. Tento ignorar e continuo o caminho. Até quando?