Já nem sei por que descutíamos. O miúdo continuava a fugir cada vez que os ânimos se exaltavam. Na altura, ele tinha 15 anos e a Maria 10, andavam no Colégio e não lhes faltava nada. A empregada, gorda e feia, era o meu apoio quando tinha que sair para as consultas - talvez a terapia me devolvesse a vontade de viver. O idiota do meu ex-marido só pensava em reuniões, viagens de trabalho e na galdéria que nos ia ficando com o dinheiro todo! Tentava, a todo o custo preservar aquele casamento porque, no fundo, sabia que, sem ele, me afundaria ainda mais na minha tristeza e porque amava o idiota acima de todas as coisas. Aos 18 anos, o miúdo saiu de casa e só voltámos a saber dele quando lançou o seu primeiro livro: Tenho uma Ideia Melhor - era um retrato da nossa família, mas numa versão feliz, coisa que nunca nos aconteceu. Sobrevivi à fuga do miúdo, ao divórcio inevitável e aos problemas que a Maria nos arranjou mais tarde. Fi-lo por mim, pelo ser humano que, afinal ainda era. Dirigi todas as minhas forças para Deus, servi a Igreja do modo que me foi pedido e senti-me acalmar... Separámo-nos todos e, aparentemente, foi assim que aprendemos a amar.
1 Comments:
Querida S.!
Brilhante a ideia de contares a mesma história pela pena de outro personagem.
Beijinhos
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